sábado, setembro 08, 2012

A...

... hora de jantar de ontem não foi propriamente famosa. O nosso Primeiro Ministro achou por bem fazer uma comunicação ao País e divulgar as mais recentes medidas de austeridade a serem implementadas em sede de orçamento de Estado para 2013. E as notícias não poderiam ser piores para os portugueses... Se em 2012 as medidas de austeridade afectaram, principalmente, os ordenados e subsídios de férias/Natal dos funcionários públicos, pensionistas e reformados, em 2013 as coisas serão um pouco diferentes. Os cortes a nível dos ordenados e dos subsídios vão estender-se também aos funcionários privados e aumentado a contribuição para a Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações para todos. Logo após todas estas "boas notícias" (sim, estou a ser tremendamente irónica!), as opiniões de muitos portugueses fizeram-se sentir nas redes sociais. A principal tónica é que seria impossível viver no nossos País a partir do próximo ano pelo que a maioria pensa em emigrar (se já se pensava antes, agora então a ideia parece ganhar ainda contornos mais acentuados). E muitos foram os funcionários do privado que se pronunciaram... Claro que compreendo as suas tomadas de posição neste momento (ninguém gosta que nos metam a mão no bolso) mas confesso que me surpreenderam alguns comentários que em nada têm a ver com a indignação dos funcionários públicos quando, há um ano atrás, souberam o que lhe ia acontecer durante o ano de 2012. Já para não falar em muitos comentários que li quando funcionários públicos comentavam que "não podiam ser sempre os mesmos a pagar a factura", imediatamente replicados com "os funcionários públicos têm muitas regalias" ou "os funcionários públicos têm emprego garantido" ou ainda "gostava de trabalhar as horas que os funcionários públicos trabalham". Não quero com este post ferir susceptibilidades ou dizer que os funcionários públicos são melhores ou piores do que os privados. Nada a ver com isso... Apenas acho que as pessoas não devem falar apenas porque sim mas devem antes ver casos concretos e falar em factos, não em especulações.
Para a maioria dos portugueses, funcionários públicos são sinónimo de funcionários que estão por detrás de balcões de atendimento em repartições de finanças, por exemplo. Qualquer um de nós, que já teve de resolver assuntos nas Finanças, sabe bem que nem sempre os exemplos dos funcionários que por lá andam são os melhores. Quantos de nós não conseguiram ver os seus assuntos resolvidos com a celeridade que pretendiam? Ou quantos não ficámos à espera que o funcionário ou funcionária terminasse um longo telefonema para que nos dirigisse a palavra? Bons e maus exemplos existem em todo lado, público ou privado, mas normalmente aqueles que tendem a ficar na nossa memória são os maus exemplos e são esses que depois mancham a imagem desta ou daquela classe e viram verdades absolutas! O que muitos não sabem é que funcionários da estrutura pública são também sinónimo de polícias, militares, médicos, professores e por aí fora... 
Obviamente que surgirão argumentos de que temos militares a mais ou que os médicos trabalham sempre em mais do que um sítio (público e privado) mas se estivermos atentos às notícias, e não dermos apenas atenção às "letras gordas", veremos que existem casos de alguma precariedade na estrutura pública que nada são sinónimo de estabilidade ou algo que se pareça. Temos professores que todos os anos lectivos têm de passar por concursos para saberem se no ano lectivo seguinte vão ter colocação (já para não falar na possibilidade dessa colocação ser bastante distante do seu local de residência habitual). Temos muitos militares, dos três ramos, que estão em regime de contrato sem possibilidade de passarem aos quadros permanentes, sem saberem se o seu próximo contrato será renovado (atentem que estes contratos têm, na maior parte dos casos, a duração máxima de 6 anos, não mais do que isso) e com o seu regime de incentivos para reinserção no mercado de trabalho civil a ser diminuído a olhos vistos nos últimos tempos. Temos muitos enfermeiros que também têm situações bastante precárias no seu dia-a-dia. E isto são apenas três exemplos de situações precárias na estrutura pública. E horas extraordinárias? Pois bem... Existem muitas destas pessoas no público que trabalham muitas horas além do horário normal de oito horas diárias sem que isso se reflicta no boletim de vencimento que recebem no final do mês, algo que, ao que tenho conhecimento e corrijam-me se estiver errada, não acontece no privado. 
Dificuldades todos nós vamos ter no próximo ano pois os cortes vão afectar-nos a todos à sua maneira. Não vamos agora encontrar nas medidas de austeridade para 2013 mais uma forma de esgrimir argumentos com esta ou aquela classe de trabalhadores. Não vamos agora achar que são os funcionários públicos que têm boa vida ou que são os funcionários privados que a têm. Todos têm as suas dificuldades e não devemos fazer generalizações de maus exemplos que temos conhecimento. Porque temos sempre que nos recordar que bons e maus profissionais existem em todas as áreas e tanto no público como no privado. Por isso, gastem as vossas as energias em tentar arranjar forma de fazer frente às medidas de austeridade que parecem nunca mais diminuir do que em destilar veneno... E tenho dito!

9 comentários:

  1. Aplaudo-te. Estou cansada de ver os funcionários públicos a serem o ferro frio onde todos malham, particularmente a opinião pública.
    Somos todos de e por Portugal, certo?

    Um beijinho

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    1. Ora aí está: somos todos portugueses e (supostamente) deveremos estar todos por Portugal mas cada vez mais me convenço que isso não corresponde de todo à realidade. Sempre me incomodaram as generalizações. Todos nós já tivemos más experiências em diversos campos da nossa vida mas não é por isso que vamos agora achar que tudo irá correr sempre da mesma forma, não é verdade? Não se pode sempre culpar os funcionários públicos de todo o mal que acontece neste País. O principal problema reside, a meu ver, nos governantes que nós elegemos em cada acto eleitoral. Acho que é esse o ponto mais importante e deveria ser aí que devíamos estar focados. A nossa sociedade precisa de deixar de procurar constantemente por novos alvos sobre os quais destilar o seu veneno. A nossa sociedade deveria reaprender e focar-se naquilo que é verdadeiramente importante mas acho que ainda temos um muito longo caminho a percorrer...

      Beijinhos

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  2. Trabalhava 12 e 13 horas no privado e nunca me pagaram horas extraordinárias. Assim aconteceu com folgas, para nao falar no mísero ordenado que me pagaram durante dois anos sempre com promessas de aumento que nunca se confirmaram. Cansei-me da situação e despedi-me, mas quem não o pode fazer continua na empresa com estas condições, ou não viu o seu contrato renovado agora em Agosto que, por ser o terceiro, obrigaria a entrar nos quadros. Estamos a falar de uma grande empresa privada, sim. É assim que funciona. Acontece o mesmo em todo o lado, diferenças dessas são do tempo da velha senhora.

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  3. Não devemos generalizar nenhuma das situações, como se referiu!
    Trabalhei numa empresa privada até há 1 semana atrás e nunca me (ou nos) pagaram horas extraordinárias, que acabam por acontecer cada vez mais derivado aos cortes que se fazem sentir nos últimos anos.
    Deviamos unir-nos enquanto povo que sofre as consequências de algo que não foi nunca provocado por nós, porque se algum dia nos revoltarmos a sério e nos fizermos ouvir, vai ser por nos termos unido, por esquecermos que somos do público ou do privado, mas por estarmos a ser todos severamente penalizados por este sistema.
    Será tão difícil assim perceber isto?
    A 'nossa' mentalidade atrasa-nos e deturpa-nos o raciocínio, só pode!

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  4. Não devemos generalizar nenhuma das situações, como se referiu!
    Trabalhei numa empresa privada até há 1 semana atrás e nunca me (ou nos) pagaram horas extraordinárias, que acabam por acontecer cada vez mais derivado aos cortes que se fazem sentir nos últimos anos.
    Deviamos unir-nos enquanto povo que sofre as consequências de algo que não foi nunca provocado por nós, porque se algum dia nos revoltarmos a sério e nos fizermos ouvir, vai ser por nos termos unido, por esquecermos que somos do público ou do privado, mas por estarmos a ser todos severamente penalizados por este sistema.
    Será tão difícil assim perceber isto?
    A 'nossa' mentalidade atrasa-nos e deturpa-nos o raciocínio, só pode!

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  5. Anónimo9/9/12 11:45

    Gostei imenso deste post porque tiveste coragem de mostrar os 2 lados. De facto, estes dois dias estão marcados pelos comentários sobre as medidads de austeridade mas relembro que se os trabalhores do privado se revoltam agora, os funcionários públicos já sentiram tudo isto há mais de um ano(primeiro com um corte salarial de 5% e depois com a suspensão dos dois subsídios). Relembro que não foram os funcionários públicos que colocaram o país assim, eles só trabalharam como qualquer outro trabalhador e receberam o respetivo ordenado. Ordenados e subidas de carreira que estão congeladas há vários anos (excepção feito ao ano da eleições onde houve aumento salarial). Quanto à questão de não haver despedimentos na função pública, peço só que vejam as filas dos centros de desemprego nestes últimos dias cheias de professores. Quanto às horas extra serem pagas, podem mudar de ideias porque no público já não são pagas há muitos anos.
    Se concordo com estas medidas, claro que não mas acho que agora são um pouco mais justas pois TODOS (menos os que são chicos espertos e sabem viver à custa do Estado ou enganando-o não pagando os impostos que deveriam pagar e muitos destes são os ditos patrões que se sentem ultrajados mas que durante anos enganaram o Estado e não pagaram impostos de acordo com aquilo que recebiam na reladidade!)contribuem para salvar o país porque o país ainda é de todos!
    Só me sinto triste porque a evasão fiscal continua às descaradas (pois conheço tantos empresários que só declaram o salário mínimo, vão buscar subsídios para os filhos, têm casarões, carrões, fazem viagens de sonho várias vezes por ano e vêm chorar que estas medidas só prejudicam os patrões)e assim o nosso país não conseguirá recuperar. O governo esquece-se sempre de criar mais e mais medidas para combater tudo isso!

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  6. @Mia: As diferenças que eu referi não são apenas do tempo da velha senhora pois tenho conhecimento de casos na actualidade em que existe o pagamento de horas extraordinárias. Também se sabe que a situação de quem está a contrato ou de quem pertence aos quadros de uma empresa é, em muitos casos, diferente desde regalias aos vencimentos que se recebem ao final do mês. Tenho pena que, apesar do passar dos anos, se continuem a verificar situações como as que descreves (em que se prefere mandar pessoas embora de uma determinada empresa apenas porque é chegada a altura em que se devem passar esses trabalhadores para o quadro). Mas também te posso dizer que pior do que essa situação, é passar-se do terceiro para o quarto contrato e continuar-se nesse mesmo regime sem passagem à vista para os quadros. E essa situação não acontece em tão poucas situações como isso. Espero que agora a tua situação profissional já seja melhor do que aquela que descreveste no teu comentário.

    @Sofia: Não poderia concordar mais com o comentário aqui deixado. Mais do que estarmos a criticar este ou aquele sector da nossa sociedade, deveríamos mais preocupar-nos em estarmos unidos e tentar dar a volta a toda esta situação cada vez mais preocupante em que nos encontramos. Porque não agir mais do que apenas falar? Quanto à nossa mentalidade... Acho que esse será sempre o nosso eterno problema e o motivo pelo qual não conseguimos fazer muito mais tal como já fomos capazes no nosso passado...

    @Anónimo: esse é exactamente um dos nossos maiores problemas e continuará sempre a sê-lo! Seremos sempre um País em que a evasão fiscal tenderá a aumentar sempre sem que exista forma de lhe fazer convenientemente frente (se calhar até existe, não existe é vontade de o fazer). Maus exemplos de maus profissionais, tal como disse anteriormente, existem tanto no público como no privado. Não se pode é estar eternamente a culpar os funcionários públicos de todos os males que existem em Portugal. Temos de passar a encarar a realidade de uma outra forma e não estar permanentemente a arranjar bodes expiatórios para tudo e mais alguma coisa! Há que olhar para os acontecimentos de forma diferente e aprender com os nossos erros.

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  7. E que tal..alterar a base de descontos (S.SOCIAL) em horas de trabalho, em vez de Anos de Trabalho? em geral a todos ! mas a todos os trabalhadores deste Portugal

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    1. Possivelmente seria uma medida que poderia ser mais justa já que quase que funcionaria como forma distinção entre os que trabalham mais e menos horas. Mas acho que seria algo muito difícil pois nem em todas as profissões é possível quantificar de forma precisa as horas de trabalho. E convém não esquecer que, infelizmente, horas no local de trabalho nem sempre são sinónimo de horas efectivas de trabalho...

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