terça-feira, janeiro 07, 2014

Sempre...

... ouvi dizer que é nos momentos mais difíceis e na morte que se vê as boas e as más pessoas. É nestes momentos que são tomadas determinadas atitudes que podem ficar na memória para sempre. Por terem sido tomadas em momentos de dor, de choro e de perda ganham toda uma dimensão que, num qualquer outro momento da vida, não lhes seria atribuída a mesma importância.

E a morte de Eusébio, ocorrida neste fim-de-semana, não é uma excepção a esta regra da vida...

Fruto do dia de repouso forçado devido à lesão de que falei aqui e aqui, hoje pude estar mais atenta ao que foi sendo passado nos canais informativos e o que se foi escrevendo nas redes sociais. E, confesso, fico um pouco triste que existam determinadas atitudes e que se escrevam determinadas frases num momento como este. Eu não sou benfiquista, conforme já referi anteriormente. Não sou propriamente fã do Luís Filipe Vieira ou do Jorge Jesus. Também não sou adepta de determinados comportamentos mais fanáticos das claques benfiquistas, mas isso também não o sou no que toca às claques do meu clube e sou a primeira a levantar-me e a condená-los por comportamentos menos correctos. Mas sei separar as águas e reconheço que não seja o momento de ter picardias e rivalidades futebolísticas à flor da pele que manchem as muitas homenagens que têm sido feitas a Eusébio. Independentemente da figura incontornável que ele foi para o Benfica, há que reconhecer que o foi ainda mais como figura do futebol português e mundial de uma época e, sinal disso, são as muitas homenagens e referências em jornalismo que lhe têm sido feitas nos últimos dias mundialmente. É sinal que Eusébio era figura muito acarinhada dentro e fora de portas e que continua a receber o reconhecimento na morte que já recebia em vida.

Mas este não é o momento para dizer, como eu cheguei a ler hoje nas redes sociais, escrito por um benfiquista, que não concordava com a presença do Bruno de Carvalho no funeral de ontem. Os adeptos não têm que concordar ou deixar de concordar com as presenças na última despedida de um homem que tanto fez pelo futebol português. Cada um decide ou não estar presente no último adeus a uma pessoa que parte. Afinal de contas, será que Bruno de Carvalho, cidadão português, era menos do que tantos anónimos que quiseram estar presentes e prestar a sua homenagem no Estádio da Luz, percurso pelas ruas de Lisboa ou no cemitério do Lumiar? Não quero com isto dizer que esta seja a opinião generalizada de todos os benfiquistas mas penso que devem ser colocadas as cores futebolísticas de parte e deve ser louvada a atitude do clube rival da 2ª Circular por se ter feito representar, neste momento, ao mais alto nível, com a presença do seu presidente. Muito também se tem falado da ausência de representantes do Futebol Clube do Porto nesta despedida. É verdade que não estiveram presentes, penso que o deveriam ter estado, mas também não se pode estar a ofender o Pinto da Costa neste momento por não ter referido o nome do Benfica nos rasgados elogios que teceu a Eusébio nas suas declarações após a morte desta estrela. Nem tinha que mencionar... Aqui o mais importante é dar o relevo ao homem e ao jogador que partiu neste fim-de-semana. Não é o Benfica que interessa neste momento como também não o seria o Sporting, se tivesse sido alguém do meu clube a partir por estes dias. Destacar clubes não interessa minimamente. Aqui o que interessa é dar relevo à pessoa que partiu e acho que isso tem sido feito e muito bem feito. 

E muitos outros comentários pude ler durante o dia de hoje... Até sobre o carro funerário que transportou a urna de Eusébio durante todas as cerimónias foram tecidos comentários menos elogiosos. Que se tratava de uma viatura de luxo, que estamos em crise, quem é que estava a pagar todos aqueles luxos e a funerária de luxo... Não é momento... Obviamente e tenhamos os pés na terra... Claro que o Benfica deve ter suportado todas as despesas com o funeral mas ninguém tem nada a ver com isso ou com os serviços que foram ou não disponibilizados neste dia. Não podemos ser pequeninos e estar a criticar coisas destas num momento de perda para Portugal. Existem exemplos muito mais importantes e flagrantes de desperdícios de dinheiro no nosso País, seja no público ou no privado, para estarmos agora a reparar naquilo que foi colocado à disposição para a realização deste último adeus. É de uma pequenez atroz e assustadora ler estes comentários completamente desnecessários e descabidos. Mas se calhar sou eu que tenho uma visão deturpada das coisas...

Não podemos ser pequeninos. Num momento que deveria ser de união entre todos os portugueses que amam verdadeiramente o futebol e o desporto, tenho pena que surjam tantas vozes como estas que criticam por criticar e destilam veneno por todos os poros. Mas, muito provavelmente, tratam-se de pessoas que dizem que amam o futebol por dizer e não o sentem verdadeiramente. Não respeitam esta modalidade desportiva da forma que deve ser respeitada. Porque as atitudes ficam para quem as pratica, é uma grande verdade, mas quem assiste à prática dessas mesmas atitudes também pode ficar revoltado e com pena de não existir mais união.

4 comentários:

  1. Gostei das tuas palavras.
    Sou do Benfica, mas acima de tudo sou portuguesa. E acho que ontem (e no domingo) eram os portugueses que homenageavam o Eusébio e não apenas os Benfiquistas.
    Como benfiquista posso dizer que no domingo quando vi um adepto do Sporting a colocar um cachecol no braço da estátua do Eusébio, a chorar e a dizer que ele também tinha perdido o Eusébio, não pude não ficar orgulhosa. E quando ontem vi que o presidente do Sporting tinha estado na última homenagem a um homem, que acima de tudo fez muito por Portugal, fiquei contente.
    O Sporting mostrou que há momentos em que a rivalidade não faz sentido, o Eusébio era de todos!
    Beijinho e desculpa o testamento ;)

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    1. Antes de mais, não precisas de pedir desculpa pelo testamento. É sempre um prazer ler os comentários de quem me lê. :)
      Em relação ao teu comentário e quando falas do gesto de um adepto do Sporting a colocar um cachecol na estátua do Eusébio: fiquei muito orgulhosa de ver esse gesto, de ver muitas camisolas e cachecóis do meu clube nesta última homenagem e gostei muito de ver o pequeno sportinguista (que não devia ter mais do que cinco ou seis anos) que pediu ao tio benfiquista para o levar ao estádio para ele se poder despedir do Eusébio. São estes gestos que mostram a união que se consegue criar em torno de um homem que é uma lenda do futebol português. Por acaso não o escrevi no meu post mas quando ocorreu a morte do Féher fiz questão de pedir à minha mãe, também sportinguista, que me levasse ao estádio para que eu me pudesse despedir dele (o meu pai, benfiquista, com muita pena não pode ir também por estar a trabalhar) e lá deixei o meu cachecol do Sporting em sinal de respeito pelo jovem que nos deixava. Há que saber ter o discernimento e a clareza de espírito necessárias para esquecermos as nossas rivalidades de 2ª Circular e desperdirmo-nos do homem Eusébio.
      Beijinhos e comenta sempre, com testamento ou não ;)

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  2. Depois de terem tido coragem de queimar os cachecóis que sportinguistas e portistas depositaram na estátua do Eusébio, já não consigo ser condescendente e usar meios-termos. A meu ver o Benfica concentra mais energúmenos e débeis mentais por metro quadrado do que todos os clubes da 1ª, 2ª e 3ª divisão juntos.
    Esquecem-se que o próprio Eusébio sempre respeitou os adversários e que, ao cometerem as atrocidades que têm vindo a cometer, estão a desrespeitar vergonhosamente a sua memória.

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    1. Concordo e muito contigo, Leana. Os adeptos (e isto é válido para qualquer clube, veja-se bem!) devem ter a capacidade de saber prestar homenagem aos seus sem desrespeitar quem os rodeia e as premissas do bom desportivismo.

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