domingo, outubro 16, 2011

A...

... realidade dos últimos tempos em Portugal e na Europa é incontornável. As notícias entram todos os dias em nossas casas com uma tonalidade que varia entre o cinzento e o negro. Não há espaço para cores vivas e animadas. A gama de cores está reduzida e molda o nosso estado de humor diário... A ginástica que cada um tem de fazer neste momento é bastante superior à que fazia no passado. Falo, pois claro, de ginástica a nível financeiro para tentar fazer face aos novos tempos com que nos deparamos. A realidade que vivemos hoje é bem distinta da de há uns anos... Anos vistos por muitos como "dourados", anos de crédito fácil que era impingido quase diariamente numa carta ou via telemóvel. Todos os desejos eram possíveis pois o crédito estava já ali e as viagens por esse mundo fora, carros novos e até mesmo malas ou roupa com preços astronómicos pareciam ao alcance de qualquer um. Ter casa alugada? Não fazia propriamente parte dos planos das famílias. O que se impunha era ter casa própria (ou do banco, até ser completado o pagamento do crédito...) pois parecia fazer mais sentido pagar uma quantia por mês para algo que um dia seria nosso do que engordar a conta de um senhorio. Tudo parecia fácil, tudo parecia possível, tudo parecia estar mesmo ali à mão...
Mas estes anos "dourados" terminaram. Chegou o momento de acordar para uma dura realidade para a qual, parece-me, a maioria não está preparada. É tempo de refrear desejos e dosear vontades, reaprender (ou aprender, em muitos casos!) o que significa economia doméstica e começar a viver de acordo com as capacidades verdadeiras de cada um e não com aquelas que se desejaria ter. Os desejos de ter mais e parecer mais não são apenas de particulares. Por esse País fora, as aparências foram também alimentadas por muitas empresas e instituições públicas e privadas, muitos carros topo de gama foram comprados, tantas coisas que fizeram com que se chegasse a este ponto de cor cinzenta ou negra...
Medidas para tentar solucionar este problema parecem-nos mais do que muitas... Se surtirão efeito? Espero muito bem que sim. Se parecem totalmente justas? Essa já é outra questão... Pertenço ao grupo que irá ver o seu subsídio de Natal deste ano diminuído. Pertenço também ao grupo que irá perder os subsídios de férias e de Natal dos dois próximos anos (e quem sabe se ficaremos só por aqui...). É um facto que tenho de me considerar bastante afortunada por ter trabalho e um ordenado certo ao final do mês para fazer face às despesas. Considero-me também afortunada por, desde sempre, os meus pais me terem ensinado que apenas nos devemos comprometer financeiramente tendo em conta as nossas verdadeiras capacidades. Razão pela qual cartão de crédito é algo que não existe cá por casa. Não que fosse fazer um uso desenfreado caso o tivesse mas apenas porque prefiro comprar apenas os extras ou miminhos a que me disponho em cada mês de acordo com os gastos mensais obrigatórios que irei ter. Sim, porque a vida não pode ser apenas trabalhar e pagar contas. Todos nós gostamos de ir ver um concerto, jantar fora ou comprar uma peça de roupa nova. Mas, para fazer face aos próximos tempos, há que reaprender a tratar destes miminhos. Há que aproveitar as oportunidades de desconto que nos são proporcionadas e aprender a não comprar apenas por impulso e não por necessidade.
Mas acima de tudo, e agora dirijo-me aos leitores que passam por aqui: não desistam! Reinventem a forma como vivem o dia-a-dia (bem sei que depois de tantos ajustes que já se fizeram, esta parece uma tarefa quase impossível...). Criem formas de gerir melhor as finanças aí de casa. Olhem para todas as vossas capacidades a nível profissional e vejam de que forma podem conseguir novas formas de rendimento (algumas nem implicam sair de casa). Acima de tudo, sejam o português que viu mais além e que um dia desejou descobrir o Mundo! Pode parecer totalmente descabida esta afirmação mas é aqui que se vê a força que este povo pode ter. E sim, vamos acreditar que vamos dar a volta!

(desculpem-me o texto tão logo ou maçudo...)

2 comentários:

  1. Querida Fiona, excelente texto, tal como já nos habituaste.
    Transcrevo esta tua frase que é tão verdadeira: "as aparências foram também alimentadas por muitas empresas e instituições públicas e privadas, muitos carros topo de gama foram comprados...". Quem nos acenou com o el dorado, já aqui, ao virar de esquina? Quem nos levou a pensar que poderíamos usufruir de férias como os demais Europeus? Que comprar uma casa, é sempre o passo mais acertado, em vez de arrendar?

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  2. Muito obrigada pelas tuas palavras, Turista.
    Acho que o nosso principal problema foi a imagem que nos veio "lá de cima", de que tudo era fácil. A expressão do El Dorado que usas descreve na perfeição a realidade que nos foi erradamente passada. Um conjunto de má opções que agora nos estão a complicar (e muito!) a vida...

    Bjs

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