quinta-feira, dezembro 01, 2011

Este...

... blog é o meu pequeno refúgio onde escrevo sobre tudo e sobre nada. Divago, sonho e dou asas à minha imaginação. Escrevo sobre as minhas paixões, sobre o dia-a-dia, sobre aquilo que me apetece. Serve-me de ligação aos tantos blogues que sigo e de que gosto tanto. Permite-me estabelecer contacto com pessoas que tanto prazer me dão ler e pode mesmo dizer-se que se estabelecem amizades virtuais, em que a ausência de posts faz logo pensar se quem está do lado de lá está bem ou porque motivo nunca mais nos presenteia com os belos textos a que estamos habituados. Gosto de escrever sobre notícias que vou ouvindo, sobre roupa e sapatos (que mulher não gosta?), as minhas leituras e as minhas músicas favoritas. Muitas vezes partilho emoções e outras (não tantas...) deixo transparecer um pouco dos meus segredos... Gosto mais de pincelar este blog de cores vivas e alegres porque acho que para tristezas já nos basta muitas vezes os dias que vamos vivendo e não é isso que se pretende. Bem, pensei muito se deveria ou não escrever este post mas depois do muito que já li durante o dia de hoje e que já ouvi na televisão, a minha natureza não me permite não fazê-lo...
Conforme escrevi no post anterior e como todos devem saber, hoje celebra-se a Restauração da Independência de 1640. Este ano de 2011 trata-se do último ano (ao que parece...) em que este feriado será comemorado. Muitas vozes de indignação já se levantaram contra este facto (existe já um baixo-assinado criado para o efeito para demonstrar que este feriado deve continuar a existir no nosso calendário dada a relevante data da História nacional que celebra). Muitas outras parecem concordar e achar que sim, que a ausência deste feriado no calendário vai fazer com que a produtividade dos portugueses aumente. Se, quanto aos primeiros, não posso deixar de estar mais de acordo, quanto aos segundos faz-me muita confusão que achem que o dia que nos permite hoje cantar o nosso hino, falar a nossa língua e tantas outras coisas possa deixar de fazer parte do nosso calendário de feriados. Acho que aqui surgem os sinais da falta de patriotismo e de tantos outros valores relacionados com a identidade nacional se estão a perder. Ouvi hoje na TVI24 um historiador dizer que "um povo que perde a sua memória, perde a sua identidade nacional". E eu não poderia estar mais de acordo... Ao estarmos a colocar a nossa História em segundo plano e ao não darmos a conhecê-la aos nossos jovens, apenas estamos a fazer com que a identidade deste nosso Portugal vá morrendo aos poucos.
Obviamente que acho que a produtividade portuguesa poderia ser bastante superior. Não tenho dúvidas disso! Mas acho que não é aumentando o horário de trabalho e diminuindo os feriados no calendário que ela vai aumentar. Engane-se quem pensar que sim. A produtividade apenas aumenta se os trabalhadores portugueses mudarem os hábitos e as suas mentalidades. O nosso horário de trabalho diário é, em média, de 8 horas. Mas bem sabemos que essas horas não são utilizadas para trabalhar na sua totalidade... É claro que sou contra esquemas de trabalho em que não sejam permitidas pausas pois elas são de todo benéficas para o bom desempenho do trabalhador. Apenas acho é que essas 8 horas devem ser mais bem aproveitadas. Se isso acontecesse, podem ter a certeza de que a produtividade seria bastante superior.
Mas houve algo mais que li durante o dia de hoje que me faz uma vez mais afirmar que estamos a perder valores relacionados com a nossa identidade. Muitas vozes se levantam e dizem que, já que são retirados os feriados do 5 de Outubro e do 1 de Dezembro, se poderia também retirar do calendário o feriado do 25 de Abril. Principalmente porque se trata de algo que não serviu para nada a não ser para os militares servirem os seus interesses. Bem, não quero com o que vou escrever de seguida ferir as susceptibilidades de ninguém mas tratam-se de afirmações sobre as quais sou mesmo obrigada a dizer alguma coisa... Muitos dos jovens de hoje nem sequer sonham como era a realidade antes do 25 de Abril. Felizmente, já nasci depois de 1974 e desses anos bem difíceis mas tenho familiares que passaram por este regime e que sempre me fizeram questão de contar como era a realidade nesse tempo. Familiares que viveram de bastante perto como eram os tempos do regime de Salazar e de Franco aqui na vizinha Espanha. Tempos em que o receio era muito e em que o simples sair de casa para trabalhar de manhã poderia significar o não regressar ao final do dia para jantar. Poderia haver, ao virar da esquina, alguém para os levar para o posto da GNR mais próximo ou mesmo da Guardia Civil, já que viver nestes tempos junto à fronteira espanhola também não era nada fácil... Não era apenas o regime português que era de extrema opressão. Do lado de lá da fronteira também se vivia a mesma realidade e quantas pessoas não perderam a vida apenas porque se recusavam a perder a sua liberdade e os seus ideiais. Sempre me mostraram este lado negro da nossa História e nunca me passaria pela cabeça achar que o 25 de Abril não serviu para nada. E ainda mais me custa quando se diz que os militares apenas se serviram do 25 de Abril para os seus interesses. Em que País se fez uma revolução com cravos nos canos das armas e sem derramamento de sangue? Trata-se de uma revolução feita por militares em que morreram três ou quatro pessoas no largo do Carmo em Lisboa não vítimas das armas dos militares mas sim das armas do regime que agora caía. Poderia ter sido um acontecimento bastante mais sangrento mas houve, da parte dos militares que construíram o 25 de Abril, o bom senso de não usar as armas porque o único objectivo era terminar com um regime que já ia longo demais. Se esta revolução tivesse sido feita apenas para satisfazer os interesses dos militares (não digo que não houvesse aproveitamento de um ou de outro mas o que conta é a maioria...), teria sido implementado um regime militar após o 25 de Abril e não uma democracia. Vale a pena pensar nisto...
E ainda me custa mais ouvir aquelas vozes que se levantam permanentemente contra os militares e que dizem que estes não fazem nada, que não trabalham e que apenas estão nas suas unidades a ver as horas passar e a beber cervejas. Tenho pena que existam portugueses que não honrem as suas Forças Armadas e que achem que elas não servem para nada. Que os militares apenas se limitam a exigir e a servir os seus interesses. Antes pelo contrário... Se os militares fossem exigir verdadeiramente tudo aquilo que têm vindo a perder nos últimos anos, de certeza que as suas vozes já se teriam feito ouvir há muito mais tempo. A questão importante no meio disto tudo é que os militares na sua formação são ensinados a suportar sacrifícios, a estarem longe das suas famílias nas datas mais importantes das suas vidas (quantos não estavam longe quando os seus filhos nasceram?) e a aceitar determinadas mudanças nas suas vidas. É a sua realidade. Não podemos eternamente achar que os militares não servem para nada ou que as Forças Armadas não devem existir somente porque não estamos em guerra. As Forças Armadas têm muitas mas mesmo muitas atribuições em tempo de paz, se calhar até mais do que em tempo de guerra. São o símbolo de um País e deveriam ser encaradas mais como uma elite da sociedade do que como parasitas como me leva a pensar quando leio determinadas afirmações.
No dia mais importante da vida de um militar, naquele em que ele passa efectivamente a sê-lo e em que abraça uma carreira diferente das demais, afirma que "juro defender a minha Pátria e estar sempre pronto a lutar pela sua liberdade e independência, mesmo com o sacrifício da própria vida". Não são palavras ditas de ânimo leve nem podem sê-lo. Não são palavras largadas ao vento. São palavras sentidas e que se revestem de uma enorme responsabilidade. São palavras que estão patentes nas suas acções diárias. São as palavras que os tornam únicos como pessoas pois a coragem de entregar uma vida a uma carreira em que pode haver um sacrifício daquilo que é mais valioso a um ser humano não pode ser considerado sem valor. Os militares, tal como qualquer outro profissional, merecem todo o respeito e não estar constantemente a serem acusados de apenas servir os seus interesses pois, provavelmente, são aqueles que menos o fazem no seu dia-a-dia pois o seu objectivo vai muito mais além do que o interesse individual.

Este texto já vai longo e peço-vos desculpa por isso... Apenas não podia deixar de expressar a minha opinião face às últimas leituras... Foi apenas um momento de "desabafos e mau feitio"... Obrigada por continuarem desse lado...

2 comentários:

  1. Querida Fiona, já sabes que eu tenho uma grande admiração, pela tua maneira de reflectir sobre assuntos que dizem directamente respeito a todos nós. E gosto da maneira como os escreves, tendo por isso, já feito alguns links, para o teu blog, lá na Turista, como bem o sabes.
    Mais uma vez tenho de te dar os parabéns pelos excelentes textos (o anterior e este).
    Somos de gerações diferentes, mas muito similares no que à maneira de pensar, diz respeito. :)

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  2. Muito obrigada, Turista, pelas tuas palavras. É sempre muito bom ouvir aquilo que achas do que escrevo e ao ver-te partilhar os meus textos nem imaginas o quanto isso é gratificante. Muito obrigada por estares sempre desse lado e seres uma das leitoras mais assíduas :).

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